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Arquitetos: Julio Ignacio Paez
- Área: 100 m²
- Ano: 2019
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Fotografias:Federico Cairoli
Descrição enviada pela equipe de projeto. O projeto está localizado na comunidade MBYA Guaraní Kaaguy Porá II na província de Misiones, Argentina. Recupera técnicas de construção ancestrais locais e sustentáveis, articuladas a técnicas industriais simples e de fácil acesso que aceleram os tempos de execução e melhoram a qualidade da obra. O projeto procura contribuir para o fortalecimento das comunidades através de um trabalho de autoconstrução assistida, replicável e sustentável, que contribui para o bem-estar da população local. O resultado é um edifício com forte caráter simbólico e apropriação pela comunidade que o constrói e habita, tornando-se um templo e a "porta da floresta" que expressa o vínculo entre o conhecimento ancestral e acadêmico, contribuindo para a união cívica e espiritual da comunidade.
Território Guarani - Pensamento sistêmico em territórios frágeis
O território Guarani tem hoje mais de 280.000 habitantes, unidos por uma língua e cultura comum, distribuídos em 1.416 comunidades na América do Sul. Na Província de Misiones, Argentina, a população Guarani ultrapassa 10.000 habitantes distribuídos em 120 comunidades. A luta pelo reconhecimento dos Direitos Indígenas é constante e incansável. Sua defesa determinada do meio ambiente se deve ao fato de que atualmente a falta de vegetação traz consigo escassez de alimentos, dificulta as práticas religiosas, torna impossível a auto-suficiência e condiciona seu desenvolvimento. O projeto busca contribuir para o empoderamento das comunidades através de um projeto comum e sustentável que fortalece e preserva seus ecossistemas, sua cultura e contribui para o bem-estar social e comunitário.
Construção comunitária
O projeto foi desenvolvido desde o primeiro momento como um projeto aberto, o que permitiu a transformação e adaptação ao longo de sua produção, aproveitando assim o conjunto coletivo que o produz, incorporando conhecimentos locais e técnicas ancestrais. Isso resultou em uma participação ativa da comunidade e sua assimilação simbólica, sem deixar de inovar na otimização da obra através da incorporação de outras técnicas que trazem novos conhecimentos e práticas à comunidade, proporcionam maior vida útil e eficiência à obra, agilizam os tempos de execução, reduzindo significativamente os custos e permitindo alcançar uma construção em maior escala.
Bambu - Sistematização, reinterpretação e viabilidade
A obra entra na floresta: sua implantação foi definida pela comunidade como um espaço de contemplação da natureza, uma porta para a floresta. A obra procura se adaptar à paisagem, sua altura e curvatura foram definida pela altura e curvatura natural da planta de bambu.
O bambu tem uma alta velocidade de crescimento e propagação, é um material leve com alta resistência mecânica e absorve quantidades consideráveis de dióxido de carbono. O clima e a geografia de Misiones proporcionam o ambiente ideal para seu crescimento. O trabalho com este material estabelece uma relação prática, simbólica e estética com as construções tradicionais guaranis, reforçando o sentido de pertencimento à obra e permitindo que a comunidade seja incorporada ao processo de construção.
A obra se transformou em uma atração para os visitantes, sendo um lugar onde eles realizam rituais, canções e festas tradicionais para exibir sua riqueza cultural aos visitantes, gerando assim também uma nova fonte de renda para a comunidade.
A estrutura e o telhado foram construídos inteiramente com bambu local. As bases são metálicas com fundações de concreto. O piso e as paredes de contenção utilizam pedra local.
O projeto foi executado em conjunto pela Cooperativa Cabure-í MNCI VC (Movimiento Nacional Campesino Indígena, Vía Campesina) Misiones, grupos de voluntários e a própria comunidade. Foi desenvolvido no âmbito de uma tese de graduação na disciplina Taller Mediterráneo, Arquitetura 6A, FAUD UNC (Faculdade de Arquitetura, Urbanismo e Design da Universidade Nacional de Córdoba), promovida pela FNA (Fundo Nacional das Artes).